Aprendizados da pandemia revelam tendências e oportunidades para o futuro da hotelaria
Especialistas apontam de que forma a indústria da hospitalidade está se reestruturando após a maior crise da história do setor, causada pela pandemia.
A pandemia de COVID-19 impactou o turismo e, consequentemente, a hotelaria como nenhum outro evento em toda a história. De um dia para o outro, as exigências sanitárias suspenderam todas as viagens e a indústria viu seus índices de ocupação caírem drasticamente. A gestão foi um grande desafio em um cenário de incertezas e o baque foi grande, com prejuízos que podem chegar a US$ 4 trilhões, segundo a OMT (Organização Mundial do Turismo).
Diante de um evento dessa magnitude, não há como sair ileso. Os hoteleiros que resistiram à maior crise do setor estão usando os aprendizados deste momento crítico para reestruturar suas operações. Assim, são observadas transformações que vão desde a arquitetura à gestão dos empreendimentos.
Durante uma live sobre o que esperar do futuro da hotelaria realizada pela JLL em comemoração aos 25 anos de presença no Brasil, especialistas apontaram para uma intensificação no ritmo de transações, aumento no movimento de parcerias e fusões e maior adoção da tecnologia como algumas tendências para o setor. Confira, a seguir, alguns pontos para ter atenção:
1.Controle de custos
A primeira lição da pandemia, que se aplica para todos os negócios, é sobre a importância do controle de custos. Na hotelaria, esse é um ponto especialmente sensível para a saúde da operação, pois os dispêndios são elevados. Manter o equilíbrio entre receitas e despesas e ter um planejamento para reduzir custos rapidamente, quando necessário, é essencial.
“Na pandemia, houve a conscientização de que pagar R$ 5 mil a mais ou a menos no contrato de manutenção de elevadores ou em outro tipo de despesa realmente tem impacto no fluxo de caixa. Os operadores e donos de hotéis entenderam que não pode haver gordura na operação”, afirma Ricardo Mader, diretor de Valuation and Advisory Services (VAS) da JLL.
2.Uso de tecnologia
Na esteira de uma gestão mais eficiente, os hotéis vão passar a contar com mais tecnologia. Ela se fará presente desde a fase de captação de clientes até a ponta, aprimorando a experiência dos hóspedes durante a estadia.
“A hotelaria é conhecida por estar muito atrasada na implantação e no uso de novas tecnologias em comparação a outros setores, como o transporte aéreo e a indústria automobilística, por exemplo. Há muito a se avançar nessa área”, diz Mader.
3.Aumento de transações e fusões
A adoção de novas tecnologias depende de investimentos financeiros e, provavelmente, um hotel independente não terá capacidade para isso, o que deve induzir um movimento de transações e fusões.
“Recentemente, bilhões de dólares em ativos trocaram de mãos na Europa, EUA e Ásia, num volume elevado de transações. A razão é simples: há mais ativos à venda do que o normal por causa da crise, as empresas precisam se recapitalizar e reorientar suas estratégias e portfólios. Essa onda deve chegar ao Brasil nos próximos meses”, avalia Alexandre Solleiro, CEO do Brazil Hospitality Group (BHG).
4.Representatividade do setor
A pandemia expôs a falta de reconhecimento do turismo como um setor importante para o PIB nacional. A dificuldade de articular medidas de enfrentamento à crise junto ao governo se deve, principalmente, à fragmentação da indústria.
“Os diferentes setores do turismo, como agências, operadoras, companhias aéreas e locadoras, atuam tentando resolver seus problemas específicos. Hoje em dia, podemos dizer que estão mais agrupados com o enfrentamento de um inimigo em comum. Assim, há melhores condições para reivindicar as demandas”, analisa Orlando de Souza, presidente do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).
5.Flexibilidade
Para reagir à crise, os hotéis precisarão ser flexíveis, uma característica que vai continuar sendo exigida dos negócios daqui para a frente, segundo Pedro Freire, diretor de Valuation and Advisory Services (VAS) da JLL.
“A flexibilidade inclui a capacidade de realizar eventos híbridos, com pessoas presentes e remotas; espaços multifuncionais que podem ser adaptados de acordo com a necessidade, como quartos que viram escritório e outras facilidades para os nômades digitais, que devem se multiplicar. Os hotéis têm que estar preparados para a flexibilidade que as pessoas conseguiram em suas vidas”, afirma Freire.
Recuperação deve levar anos
Apesar das reações da hotelaria à crise indicarem algumas tendências de futuro, ainda é cedo para falar em recuperação do setor. De acordo com a Pesquisa Hotelaria em Números 2021, da JLL, a expectativa para recuperar os índices de 2019, pré-pandemia, deve acontecer nos seguintes prazos:
- Taxa de ocupação: 1 a 2 anos
- Diária: 2 a 3 anos
- RevPar (que mede a rentabilidade dos apartamentos): 3 a 4 anos
Ainda segundo o estudo da JLL, os hóspedes mudaram seus critérios para selecionar um hotel. Antes, os principais fatores de decisão eram preço e localização. Agora, a preocupação maior é com higiene e limpeza - mais um lembrete de que a pandemia ainda não terminou.
De toda forma, os especialistas demonstram otimismo quanto ao rearranjo do mercado e ao potencial de desenvolvimento da hotelaria no país.
“No Brasil, apenas 25% dos hotéis estão concentrados em redes, enquanto o resto está fragmentado. A indústria hoteleira deve passar por um movimento de consolidação, não só da operação de marcas e canais de distribuição, mas também de proprietários. Cada vez mais, veremos grandes proprietários que vão ganhar rentabilidade e poder de negociação com o crescimento em escala”, prevê Ricardo Mader, da JLL.